segunda-feira, 15 de outubro de 2007

*** Educar devidamente

Ouvimos a história de alguém que aprecia contá-las

ao sabor da própria memória e de suas próprias adições.

Eram dois garotos levados. Dois irmãos "do barulho".

Tudo que acontecia em termos de confusão, na pequena cidade,

envolvia os moleques.

A mãe, mulher honesta, de bons costumes,

se preocupava com o que viriam a ser seus dois meninos.

Por isso, procurou o padre da igreja que freqüentava,

pedindo ajuda.

O que fazer se os filhos não lhe ouviam os conselhos?

Que tática poderia ela utilizar para fazer com que os filhos

deixassem de ser tão travessos?

O padre era um homem alto, encorpado, de voz forte.

Disse àquela mãe que mandasse os garotos falarem com ele,

separadamente.

Primeiro, o mais novo.

E lá foi o menino. O padre o levou a uma sala,

fê-lo sentar-se em uma cadeira e, dedo em riste,

foi logo perguntando:

Menino, então, me diga, onde está Deus?

O garoto se encolheu, esbugalhou os olhos,

escancarou a boca e ficou olhando o homem à sua frente,

que continuava a perguntar:

Diga: onde está Deus?

As mãos do pequeno ficaram trêmulas.

E continuou mudo, o pavor tomando-o por inteiro.

E, porque a pergunta se tornasse insistente,

ele se levantou e fugiu em desabalada correria.

Foi para casa e se escondeu no armário do quarto.

O irmão mais velho o encontrou, pálido e agitado.

O que aconteceu, mano?

E o garoto, ainda sem fôlego, gaguejou:

Mano! Desta vez estamos perdidos. Deus sumiu!

E o padre está dizendo que fomos nós!

O fato, com certeza, nos motiva o riso.

Contudo nos dá a tônica de como nós,

na qualidade de educadores,

ainda andamos longe do ideal.

Quantos de nós não agimos assim?

Fazemos perguntas, acusamos nossos filhos,

nossos alunos, sem que eles possam entender

exatamente o que está acontecendo.

O porquê daquelas afirmações e indagações.

É por isso, entre outras questões,

que nossa educação não alcança os objetivos que desejamos.

Porque não nos fazemos entender.

Não dizemos exatamente o que se faz necessário.

Ao tentar corrigir um erro, vamos pelas beiradas,

quando deveríamos ir diretamente ao ponto.

Indagar o porquê da atitude equivocada,

se aquilo é correto, se é justo,

se gostaria que com ele acontecesse o que fez ao outro, etc.

Aí, sim, nosso falar seria como pregava Jesus:

Sim, sim, não, não.

Indo ao ponto, falando às claras, e, a partir disso levar a criança

ou adolescente a pensar conosco.

Eles precisam entender o que é que estamos cobrando,

por que estarão recebendo uma ou outra penalidade.

Isso fará com que nossos educandos, sejam filhos ou alunos,

ou sobrinhos, ou vizinhos, não nos temam.

Mas nos entendam.
Entendam nossas propostas educativas.

Pensem a respeito e as assimilem.

Com certeza, nenhum de nós deseja amedrontar

quem quer que seja e, muito menos, criar complexos de culpa,

sempre perniciosos, a almas em formação.

Pense nisso

A tarefa da educação nos convida, de forma incessante,

à revisão das nossas próprias atitudes e comportamentos,

a fim de que sejamos os autênticos promotores

da nossa educação.

Por extensão, dos que estão conosco.

Dos que nos observam todos os dias,

nas mais diversas situações.

Redação do Momento Espírita

sábado, 13 de outubro de 2007

*** A COMPAIXÃO INDISPENSÁVEL

A busca pelo bem-estar é inerente à natureza humana.

O desejo do homem de livrar-se do sofrimento propiciou

notáveis descobertas em todos os setores

do conhececimento.

Analgésicos e anestésicos podem ser citados como

conquistas humanas na procura de bem-estar.

Ar condicionado, colchões ortopédicos e mesmo

a singela água encanada também compõem

o espectro de invenções destinadas a tornar

a vida confortável.

Na busca de conforto e tranqüilidade,

um dia o homem

voltará sua atenção para os problemas morais

que a sociedade enfrenta.

Então compreenderá que o egoísmo é a causa

de todas as desgraças sociais.

Ele é que permite a um homem investir

sobre o patrimônio, a honra e a vida de outro,

qual uma fera selvagem.

O egoísmo é a matriz de todos os vícios.

Quando ele for combatido, todos os seus

desdobramentos,

como vaidade, ganância, maledicência e

corrupção, perderão a força.

A disseminação das idéias espíritas é um

poderoso elemento de combate ao egoísmo.

O Espiritismo deixa claro que todo vício

gera dor e que a Lei de Causa e Efeito rege a vida.

Todo mal feito ao semelhante é

uma semeadura de dor no próprio caminho.

Quem quer ser feliz deve tratar o próximo

com todo o respeito e generosidade

com que desejaria ser tratado.

A vinculação da própria felicidade à felicidade

que se proporciona torna evidente o

quanto é tolo ser egoísta.

Ao buscar seu interesse, em detrimento

ao do próximo, o egoísta apenas se candidata

a vivenciar grandes dores.

Ao se conscientizar da inexorabilidade

da Lei de Causa e Efeito, a Humanidade

reverá seus valores e prioridades.

Entretanto, é preciso reconhecer

que uma idéia nem sempre é fácil

de ser posta em prática.

Provavelmente você já se conscientizou

de que a Justiça Divina é infalível.

Mas ainda titubeia em sua caminhada e

por vezes comete leviandades em

prejuízo do próximo.

Uma boa tática de renovação moral é parar

de apenas pensar e começar a sentir.

Raciocinar é necessário, mas amar

é imprescindível.

O melhor caminho para o genuíno

amor fraterno é a compaixão.

Compaixão é a tristeza que se sente

com a infelicidade alheia.

Mas também é o desejo de livrar o

próximo do sofrimento.

Para desenvolver esse nobre sentimento,

deixe de fugir ao espetáculo das misérias humanas.

Permita-se conviver com os doentes e

os viciados do corpo e da alma,

conforme fez o Cristo.

Faça-se companheiro e amigo

de idosos e enfermos.

Visite asilos, orfanatos, hospitais e presídios.

A título de preservar sua paz,

não cultive a indiferença.

Deixe que seu coração se enterneça

com a dor alheia.

A compaixão impede que um homem

siga satisfeito em meio à tragédia

que devasta a vida do outro.

Ela possui um certo encanto melancólico,

pois nasce ao lado da dor e da desolação.

Contudo, constitui a mais eficiente

forma de cura das ilusões e paixões humanas.

A compaixão desperta as fibras mais íntimas

da alma e a prepara para as experiências

sublimes do devotamento e da caridade.

Não receie sofrer ao se tornar compassivo.

Ao avançar nesse caminho, você logo se

tomará do ideal de aliviar a dor do semelhante

e começará a agir.

Então, a tristeza inicial se converterá no júbilo

de quem amorosamente socorre e ampara

os desprotegidos do mundo.

A alegria de ser útil e bondoso iluminará

sua vida e o acompanhará pela eternidade.

Pense nisso.

Redação do Momento Espírita.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

*** PERIPATÉTICO


Numa das empresas em que trabalhei, eu fazia parte de um grupo de treinadores voluntários.
Éramos coordenados pelo chefe de treinamento, o professor Lima, e tínhamos até um lema:
"Para poder ensinar, antes é preciso aprender".
Um dia, nos reunimos para discutir a melhor forma de ministrar um curso para cerca de 200 funcionários. Estava claro que o método convencional -- botar todo mundo numa sala -- não iria funcionar, já que o professor insistia na necessidade da interação, impraticável com um público daquele tamanho.
Como sempre acontece nessas reuniões, a imaginação voou longe do objetivo, até que, lá pelas tantas, uma colega propôs usarmos um trecho do Sermão da Montanha como tema do evento.
E o professor, que até ali estava meio quieto, respondeu de primeira.
Aliás, pensou alto: - Jesus era peripatético...
Seguiu-se uma constrangida troca de olhares, mas, antes que o hiato pudesse ser quebrado por alguém com coragem para retrucar a afronta, dona Dirce, a secretária, interrompeu a reunião para dizer que o gerente de RH precisava falar urgentemente com o professor. E lá se foi ele, deixando a sala à vontade para conspirar. -
- Não sei vocês, mas eu achei esse comentário de extremo mau gosto - disse a Laura.
- Eu nem diria de mau gosto, Laura. Eu diria ofensivo mesmo - emendou o Jorge, para acrescentar que estava chocado, no que foi amparado por um silêncio geral.
- Talvez o professor não queira misturar religião com treinamento - ponderou o Sales, que era o mais ponderado de todos.
- Mas eu até vejo uma razão para isso...
- Que é isso, Sales? Que razão? -
Bom, para mim, é óbvio que ele é ateu.
- Não diga! -
- Digo. Quer dizer, é um direito dele. Mas daí a desrespeitar a religiosidade alheia...
Cheios de fúria, malhamos o professor durante uns dez minutos e, quando já o estávamos sentenciando à fogueira eterna, ele retornou.
Mas nem percebeu a hostilidade. Já entrou falando:
- Então, como ia dizendo, podíamos montar várias salas separadas e colocar umas 20 pessoas em cada uma. É verdade que cada treinador teria de repetir a mesma apresentação várias vezes, mas...
- Por que vocês estão me olhando desse jeito?
- Bom, falando em nome do grupo, professor, essa coisa aí de peripatético, veja bem...
- Certo! Foi daí que me veio a idéia. Jesus se locomovia para fazer pregações, como os filósofos também faziam, ao orientar seus discípulos. Mas Jesus foi o Mestre dos Mestres, portanto a sugestão de usar o Sermão da Montanha foi muito feliz.
Teríamos uma bela mensagem moral e o deslocamento físico... Mas que cara é essa?
Peripatético quer dizer "o que ensina caminhando".
E nós ali, encolhidos de vergonha. Bastaria um de nós ter tido a humildade de confessar que desconhecia a palavra que o resto concordaria e tudo se resolveria com uma simples ida ao dicionário.
Isto é, para poder ensinar, antes era preciso aprender.
Finalmente, aprendemos duas coisas:
A primeira é: o fato de todos estarem de acordo não transforma o falso em verdadeiro.
E a segunda é que a sabedoria tende a provocar discórdia, mas a ignorância é quase sempre unânime.

(Max Gehringer)

"O raciocínio descobre a vizinhança entre a fé e o entendimentoe a distância entre a fé e o fanatismo" (André Luiz, in Opinião Espírita, cap. 19).


























domingo, 7 de outubro de 2007

*** Serenidade e acomodação

Você já observou que um dos maiores inimigos do homem é a acomodação?

Irmã da indiferença, aparentada com a preguiça, a acomodação é como uma doença que, aos poucos, paralisa as iniciativas humanas.

A acomodação vai contra o ritmo da vida. Sim, porque aqui na Terra tudo nos convida ao trabalho. A ação move a roda do progresso e é responsável pelos avanços humanos.

Sem trabalho, o homem se afasta de seu grupo social. Sem agir, ele se torna praticamente invisível aos outros. E assim foge ao contato que pode enriquecer sua experiência de vida.

Você já notou como há gente acomodada no mundo? Pessoas que, à primeira dificuldade, simplesmente desistem. Outras há que sequer começam qualquer coisa que dê trabalho dobrado. São vítimas da preguiça.

É óbvio que essa acomodação não se restringe apenas ao trabalho. Quem é acomodado, leva isso para todos os demais aspectos da vida.

Assim, o acomodado não busca se aperfeiçoar ou se aprimorar. Pior: geralmente, costuma reclamar que não é valorizado. Esquece que não é valorizado porque está parado no tempo.

A atitude do acomodado é muito diferente da atitude de uma pessoa que enfrenta os acontecimentos da vida com serenidade. Vamos ver qual a diferença?

Sereno é aquele que, diante de uma situação adversa analisa todas as variáveis: verifica onde errou, como pode corrigir e pesa os prós e os contras.

Em geral, a pessoa realmente serena não se deixa perturbar pelas dificuldades, mas busca soluções.

O acomodado é bem diferente. Ele diz simplesmente: "Deus quis assim e eu não vou contra Ele". E cruza os braços!

Ora, é indiscutível que tudo o que acontece é porque Deus permite. Também não se trata de ser contra a vontade divina.

Mas, a vontade divina nos presenteou com o LIVRE ARBÍTRIO! Somos donos de nossa vontade. E as dificuldades chegam para que aprendamos a lidar com elas.

Ou seja: toda situação difícil traz uma lição. Mas esse aprendizado é longo e tem várias fases.

Depois de observar quais lições aprendemos com determinados episódios, o passo seguinte é verificar se podemos minimizar os efeitos negativos.

A diferença entre uma pessoa tranqüila e uma pessoa acomodada é que a segunda não aproveita a lição de forma completa.

A pessoa acomodada pára no meio do caminho. Quando algo aparentemente ruim acontece, chora, se lamenta e fica por isso mesmo.

Algumas vezes até permanece calma, mas não reflete, nem toma qualquer atitude para que no futuro não mais seja atingida por situações semelhantes.

Em verdade, o acomodado tem preguiça de pensar no que fará daí por diante. Para ele é mais fácil varrer as dificuldades para debaixo do tapete do esquecimento.

E esse conformismo paralisa a criatura, faz com que ela se torne apática, sem iniciativa.

Por isso, vale a pena observar os nossos atos perante a vida. Que estamos fazendo com as lições que Deus nos permite vivenciar?

Será que estamos aproveitando para mudar hábitos negativos? Para modificar a maneira de ver as coisas?

Não esqueça de que cada momento vivido é um instante único em nossa trajetória. Cada lágrima ou sorriso carrega consigo um mundo de ricas experiências que devemos aproveitar.

Pense nisso!

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

***O GRITO

Uma boa palavra auxilia sempre.
É lamentável se observar como estamos nos esquecendo de cultivar a boa palavra.
Nosso atual vocabulário empobreceu-se muito e, face aos dissabores que nos envolvem a vida, primamos por expressar, pela fala, o mau humor e o desânimo que nos assola.

Basta permanecermos alguns minutos em uma fila de mercado, de ônibus, de banco, para logo se perceber o início das lamentações, das queixas e o desfilar do rosário da infelicidade.

Quanta vez, em plena rua, alguém nos aborda, rosto transtornado a solicitar uma informação. Onde fica o Hospital, a Delegacia, o Posto de Saúde?
De forma mecânica, indicamos a direção correta ou por vezes, alegando pressa, nos escusamos de perder tempo e desviamos da criatura.
E, no entanto, é um ser que sofre e talvez bastasse uma palavra amiga, a gentileza de explicar em pormenores, de seguir com ele um trecho do caminho, para lhe amenizar a dor.

Recordamos que, certa vez, um homem ouvia em um templo religioso as advertências do orador:
"Falar é dom de Deus. Se abrimos a boca para dizer algo, saibamos dizer o melhor. É preciso aproveitar todas as oportunidades porque, às vezes, desajudamos quando podíamos ajudar."

O homem saiu dali e agasalhou a mensagem.

Alguns dias depois, nas funções de pedreiro-chefe inspecionava um grande recinto, em fase final de construção, junto com o engenheiro.
O enorme salão estava muito bonito. Acabamento esmerado e pintura, primorosa.
Vamos experimentar a acústica. - sugeriu o engenheiro. E, virando-se para o pedreiro, lhe pediu: Grite alguma coisa.
Saulo, esse era o nome do pedreiro, recordou as lições de dias antes a respeito da palavra e enchendo os pulmões, bradou alto:
Confia em Jesus!
O som estava muito bem distribuído e agradou a ambos.

Passados alguns minutos, adentra a sala um homem de cabelos em desalinho, perturbado, revólver à mão.

Quem gritou? Pergunta. Quem mandou confiar em Jesus?

Saulo é apontado e o homem a ele se dirige. Percebe-se-lhe no olhar a angústia e o desespero.
Joga-se nos braços do pedreiro e chora:
Obrigado, obrigado, amigo.

E porque ninguém conseguisse entender o que estava acontecendo, explica:

Eu estava no terreno da construção. Queria morrer. Estava encostando o cano do revólver ao ouvido, quando escutei seu apelo. Sustei o gesto.
Estou desempregado há muito tempo e sou pai de oito filhos. Confiar em Jesus. Sim. Eu confiarei.

É sempre importante falarmos o bem.
Mesmo quando pensemos que estamos sós,
pois em verdade não estamos.

Feliz foi o poeta que disse que o homem tem na garganta uma flauta mágica que pode emitir as mais doces melodias. É a voz, talento divino que nos foi dado para o nosso progresso e crescimento dos nossos irmãos.
* * *
A guerra nasce da linguagem dos interesses criminosos, insatisfeitos.
A língua guarda a centelha divina do verbo através do qual o homem pode erguer o monumento da paz.
Assim, podemos utilizar a palavra para consolar e edificar os nossos irmãos.