segunda-feira, 24 de setembro de 2007

*** MELINDRE OU AGRESSIVIDADE

Melindre tem várias definições.

Pode ser definido como amabilidade,

delicadeza no trato, recato, pudor.

No entanto, é quase certo que

ao ser utilizado pelas pessoas,

o conceito que expressa é de

facilidade de se magoar, de se ofender,

suscetibilidade.

Nesse sentido, tem sido comum a sua invocação,

nas relações humanas.

As menores atitudes de um funcionário,

de um amigo recebem a adjetivação imediata.

Por isso, amizades se diluem,

desentendimentos acontecem,

duplicando mágoas de um e de outro lado.

Nas várias facetas do trabalho voluntário,

melindre tem sido utilizado para justificar

traições, desajustes e quebra moral .

Que ele existe, é verdade.

Mas que as pessoas se dão, por vezes,

um valor maior do que verdadeiramente possuem

e aguardam tratamento especial, também é verdade.

No entanto, um outro lado da questão se apresenta

e tem sido esquecido, quase sempre.

Se melindre é a manifestação do orgulho ferido,

não menos verdade que medra, entre as criaturas,

muita falta de tato, delicadeza e gentileza.

Em nome de uma falsa caridade,

de expressar a verdade, amigos

e companheiros de trabalho

se permitem lançar ao rosto do outro tudo que pensam.

E não medem palavras nas suas expressões.

É como se tomassem de pedras e as jogassem,

sem piedade.

E o que esperam é que o outro aceite tudo.

Quando o agredido se insurge,

quando toma uma atitude, quando fala de respeito,

é tomado como aquele que se melindra.

Contudo, em nenhum momento o agressor,

aquele que foi indelicado e feroz, se desculpa.

Não, ele está certo.

O outro é que é portador de muito orgulho.

Nesse diapasão, vidas honradas de trabalho

têm sido literalmente jogadas no lixo.

Servidores de anos têm tido

seus esforços depreciados,

como se fossem coisa alguma.

E o que critica maldosamente,

o que aponta os erros mínimos é o herói,

a pessoa correta.

Refaçamos os passos enquanto é tempo.

Antes de destruirmos valores afetivos preciosos

Antes de atacarmos instituições centenárias

com folha irrepreensível de dedicação

e serviço à comunidade.

Examinemos quantas vezes a culpa nos compete.

Quantas vezes teremos sido nós os provocadores

do afastamento de pessoas de nosso convívio.

Ou da instituição a que prestamos serviço.

Da nossa família, da nossa esfera de amizades.

Recordamos que, certa vez, em reunião de trabalho,

um voluntário interrompeu de forma agressiva

a fala do coordenador.

Reclamou e reclamou, ferindo e

humilhando-o frente aos demais.

O ferido se calou, dolorido.

Depois de alguns dias, procurou o agressor

em particular.

A sós com ele, expressou a sua mágoa,

com o sincero objetivo de modificar

a emoção ferida e apaziguar seu mundo íntimo.

O interlocutor, em vez de reconhecer a indelicadeza,

reverteu a situação e deu o diagnóstico impiedoso:

não houvera agressão de sua parte.

O outro é que se melindrara.

Pensemos nisso.

Será que a constatação quase diária de melindre

nos outros não se tornou uma válvula de escape para nós?

Uma desculpa para a nossa rispidez cotidiana,

o nosso relaxamento no trato com o semelhante?

* * *

Quem se melindra, deve trabalhar

para se tornar menos suscetível.

Mas quem provoca o melindre

não pode se esquecer da lei de caridade,

da afabilidade e da doçura preconizados por Jesus:

Bem-aventurados os mansos e pacíficos.

Redação do Momento Espírita com base em fato narrado no artigo
O problema do melindre, de André Marcílio Carvalho de Azevedo,
da Revista Presença Espírita nº 261, ed. Le
al

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