quarta-feira, 8 de agosto de 2007

*** CRIANÇAS DEPENDENTES




Pais tolerantes demais e muito apegados aos filhos são incapazes de prepará-los para o futuro.


Do ponto de vista de nossa caminhada em direção à independência, penso que os últimos passos foram para trás, isto é, estamos formando uma geração de pessoas mais inseguras e dependentes do que nós fomos.

As crianças são superprotegidas e dispõem, devido aos avanços tecnológicos, de uma série de facilidades inimagináveis na nossa infância.

No entanto, as condições de meninos e meninas melhoraram também em virtude da criação da psicologia moderna.

Aprendemos com a psicanálise a considerar os primeiros anos de vida como um período especialmente importante para a formação da personalidade.

Aprendemos a entender - pelo menos a tentar entender - o funcionamento da razão e de como as emoções se manifestam nas crianças e nos adolescentes.

Aprendemos a valorizar suas dores e a dar mais ouvido às suas necessidades.Essa preocupação foi, sem dúvida, positiva.


Infelizmente, há o outro lado da moeda.


Os adultos passaram a ter muito medo de agir com energia e disciplina em relação aos filhos. Ficaram com receio de traumatizá-los, de impor a eles "marcas irreversíveis" que lhes causariam limitações posteriores.

A noção de trauma, que só deveria ser aplicada a acontecimentos muito dramáticos, se estendeu para todo tipo de procedimentos repressivos necessários ao aprendizado do ser humano.

A psicologia - que tanto nos ensinou sobre a vida interior das crianças - deixou nossas mãos amarradas, impedindo uma educação baseada na firmeza.

Hoje, ser "pequeno" é um privilégio para os que nasceram nas classes mais abastadas.

Por outro lado, as condições da vida adulta só têm piorado.

A população do planeta vem aumentando para além de suas possibilidades. Existe um número cada vez maior de pessoas disputando o mesmo espaço.

Nas grandes cidades, há excesso de habitantes, o que determina o crescimento inevitável da violência.

Paralelamente, o mercado de trabalho não apresenta condições de absorver todos os jovens que se formam.

Isso fará com que as próximas gerações venham a ter ganhos materiais bastante inferiores aos nossos (que já nem sempre são muito satisfatórios).

A competição profissional se acirra e, o que é pior, em torno de ganhos menores.

É inevitável que a idéia de prolongar o período infantil se torne extremamente atraente.

A acentuada dependência das crianças é uma rua de mão dupla.

Os pais também desenvolvem forte dependência em relação aos filhos.

Isso é particularmente verdadeiro quando os adultos têm seus problemas emocionais mal resolvidos e canalizaram boa parte de suas necessidades afetivas para o vínculo com as crianças, que deveria ser temporário.

Hoje os adultos se sentem desamparados.

Não faltam razões para justificar tal insegurança.

Antigamente as pessoas mantinham fortes vínculos com pais, tios e irmãos.

Dessa forma, os parceiros e os filhos só vinham complementar os laços já existentes.

Mas o clã familiar cedeu lugar a núcleos menores.

O fenômeno foi gerador de liberdade, desaparecendo o dever de obedecer às gerações mais velhas.

Aumentou, porém, a dependência entre marido e mulher, e entre o casal e seus filhos.

O afeto, outrora diluído, está concentrado em poucos objetos de amor.

Há mais um fator para complicar as coisas: o divórcio, pelo qual o vínculo conjugal pode ser rompido a qualquer momento.

Com esse futuro incerto, pais e mães tendem a se apegar ainda mais às crianças.

Se a separação ocorrer, poderão ao menos contar com o amor delas.


Fecha-se o círculo: filhos superprotegidos, fracos e dependentes certamente se prestarão melhor a esse papel do que aqueles educados para criar asas e voar em busca de seu destino.

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